terça-feira, outubro 30, 2007

Bárbara

"Não havia dúvida, porém, quanto ao que exigia: todo o ouro e toda a prata da cidade e entrega de todos os escravos de sangue bárbaro. 'Que é que nos deixa, então?' - perguntou o emissário. 'A alma' - respondeu ele".



Fel de bronze e ferro, cerra os olhos dos homens; lhes escancara a carne.

Intempestiva e inexorável,
da terra aos confins
leva seus lírios negros

E espolia-nos a todos. Flamejante o seu cabelo
em ruínas faz os olhares do mundo.

Passa com vento, chuva, fogo, sangue; e cheiro e caminhar de fêmea.

Indefesos, lhe chamamos selvagem. Que sitia e incendeia, vence nossas torres e bastiões. Carnificina-nos.

Leva seu ouro e sua prata, seus espólios manchados de gozo. Impõe um tributo silencioso, de respeito e gratidão ignóbil. Porque nos deixa vivos.

Sim, lhe somos gratos. Pois o único momento em que a Terra - essa coisa inanimada e burra - sabe-se viva é quando passa a devastação, e os campos só nos têm amizade quando lhes é ceifado o grão, com a foice sedenta de pescoços. Da mesma forma, nos vemos vivos, quase imortais, depois que ela se vai. É que da sua boca em disparada pinga o nosso sangue, espalhando-se por todos os cantos, e assim fazemos parte de tudo o que há.

Um comentário:

Anônimo disse...

cruel!