quarta-feira, outubro 10, 2007

Uma carta

Rodolfo,

Por favor, me leia com atenção, e me dê a sua opinião.

Acabo de dar vazão a uma faceta muito sinistra minha. Enviei - trêmulo de prazer - um e-mail muito cruel e injusto para a Clarissa. Não acredito em metade do que escrevi e, principalmente, não acredito em absoluto no tom que dei às palavras. Foi um puro e simples exercício de crueldade. E também um exercício de autoflagelação.

Sim, porque, enquanto escrevia, desejava uma resposta tão cruel quanto, ou então a decepção total (que foi o que acabou acontecendo). O que leva um ser humano a deleitar-se com essas coisas, especialmente em se tratando da pessoa mais importante e amada da vida dele? Que mistério assustador. É aterrorizante saber que eu posso sim ser um monstro, um açougueiro psicopata; porque foi essa a sensação que tive; um eremita emocional, agressivo, de olhos injetados, e com uma boa dose de tragédia. Há uma literatice nisso tudo, quem sabe? Um desejo de superar a mediocridade e arenosidade da vida com situações dramáticas? É difícil para alguém como eu - cujo endereço é a lua - se deparar com o fato de que a vida não é um romance, e sim uma responsabilidade. Assim, fria e imperdoável. A vida verdadeira não dá margem a sentir pena de si mesmo. É uma governanta severa e boa, que quer o dever de casa feito antes de permitir que as crianças sentem à mesa da felicidade.

Será isso?

Estupefactamente,

Alexandre

Um comentário:

Anônimo disse...

estupefactado,

Fabio.