quinta-feira, maio 26, 2005

Enchendo lingüiças

Coisas inteligentes. Dizê-las não é tão difícil assim; em cada esquina, papo - de bêbado ou de sóbrio - há algumas sendo soltas por aí. Porque coisas inteligentes não estão só nos livros acadêmicos - ou na xerox dos mesmos -, e podem surgir até sem querer. Até um espirro pode ser inteligente, dependendo do momento.

Algumas das coisas inteligentes que eu lembro de ter ouvido recentemente:

"Foi o Elifoot que acabou com o botão". (OBS: Essa só entende quem foi adolescente - do sexo masculino - em meados da década de 90. É necessário ressaltar: adolescente normal, na média; daqueles com vírgula depois do número)
"Que tal apertar o 'power'?".
"Que caneta? Essa que está na sua mão?".
"Vvvooommmm..." (Onomatopéia: sabres de luz do Star Wars)
"Foi um morcego; cocô de pombo não é assim".

sexta-feira, maio 13, 2005

Preparação

Buiú, o universitário ocioso, passou o dia quieto demais, e o Moreira - amigo imaginário e coronel do exército epiléptico - já estava ficando impaciente. "Não vai me dizer, Sr. Buiú, que você está com medo da sexta-feira XIII?". "Hã?", gemeu o Buiú na garupa do garanhão, que trotava na calçada; ele estava muito distraído olhando para o alto dos prédios para responder coerentemente. Depois de o Moreira tomar ar para repetir sua pergunta, mas antes que ele a repetisse, o Buiú pediu: "Se importa de ficar embaixo das marquises? Não quero levar uma tijolada na cabeça no meio da Rio Branco". "Argh!" - o Moreira fez uma careta - "Poupe-me das suas superstições! Hoje, meu caro, é uma sexta-feira como outra qualquer". "Não é da sexta-feira 13 que tenho medo, Moreira. É da quinta-feira 12". Nesse momento o cavalo do Moreira empacou. Ainda penso que o fez para ouvir melhor a besteira que o Buiú dissera e que, sem dúvida alguma, complementaria. Merece até um novo parágrafo.

"Quinta-feira XII?!". Não, não foi o cavalo que perguntou; foi o Moreira mesmo. "Sim, Moreira! É na quinta-feira, número 12, que reside o Azar e toda a sua família". Buiú abriu um parêntese, meteu um sorriso de "gostei da minha própria metáfora" lá dentro, fechou o parêntese, e continuou (o cavalo parecia então mais atento do que nunca): "Moreira, você acha que tudo acontece instantaneamente, da noite pro dia, do nada? Você é veterano de guerra, sabe muito bem que o resultado de uma batalha só vem depois de dias de preparação". Buiú estava empolgadíssimo, e nem percebeu o esboço de protesto de seu amigo imaginário. "Da mesma forma, a tijolada na cabeça não acontece de uma hora pra outra. Com certeza foi na quinta-feira 12 que um pedreiro idiota deixou o tijolo na borda do andaime. Não na sexta-feira 13, porque, na sexta-feira 13, o idiota do pedreiro toma todo o cuidado do mundo para que não aconteça uma fatalidade". Ao dizer isso, o Buiú deu uma olhadela pro alto de novo, e, estando o céu limpo de tijolos inopinados, lubrificou a garganta de poesia e arrematou: "Nem tudo é o que parece. Nem mesmo o próprio tempo". O Moreira ficou calado e pensativo; o cavalo parece que foi convencido, pois voltou a andar, tranqüilamente, por uns 100 metros. Logo teve que parar: o Moreira tivera outro ataque.

quarta-feira, maio 11, 2005

Conversa fiada

"Qual é a cor da sua cueca?"

Para o Souza, essa pergunta caía muito bem em qualquer conversa fiada. Uma vez, no elevador: "Tá calor, não?". "Pois é. Qual a cor da sua cueca?". Todo papo-furado era a mesma coisa. Quando mudava o sexo do seu interlocutor, mudava o gênero da roupa íntima. Mas invariavelmente vinha pergunta, fosse no ônibus, elevador ou fila de banco. Era uma mania, aliás, e não sou eu quem diz isso. O próprio Souza dizia. Para você, leitor, que no momento ri - ou, no mínimo, balança a cabeça negativamente -, ele argumentaria: "Como vou saber a coloração da peça íntima de alguém sem perguntar? Pelo menos - na maioria dos casos - elas estão escondidas. O que é estranho, pra mim, são aquelas pessoas que perguntam do frio quando todos sabem que está frio. Estou errado?". Caso a fala fosse realmente do Souza - e não uma imitação zombeteira dos colegas de repartição - ainda teria aquele "Hein?" triunfal no final da frase. Se você ainda está rindo, é porque nunca ouviu aquele "Hein?".

Mas, de qualquer forma, não vou dizer que essa mania do Souza lhe rendeu amizades ou admiração; rendeu-lhe esse conto, ao menos. Póstumo. Pois sim, o Souza já partiu dessa pra uma melhor. Pobre Souza. No seu velório, fizeram-lhe um belo discurso, proferido pelo Freitas, da repartição. Sempre pensei que os discursos - quando haviam - eram feitos no enterro. Mas enfim, esse foi no velório. Ao fim de 5 minutos de verborragia alguns choravam; outros riam; a maioria fazia as duas coisas. O danado do Freitas mencionara a mania do Souza. Pobre Souza. Sempre pedira para ser enterrado com a bandeira do Brasil, que tanto amava. Meteram-lhe debaixo da terra com um punhado de cuecas.

segunda-feira, maio 09, 2005

Papo de segunda (feira)

Futebolística

O que há com o Botafogo? Três jogos, três vitórias. Se chegar na sétima - número cabalístico -acho que o mundo acaba.

Por falar de futebol...

Buiú, o universitário ocioso, voltava de São Januário na garupa do Moreira, que ia bastante irritado com a derrota do Vasco para Aquele Time. "O nosso center-for deveria jogar peteca, e não futebol!", esbravejava. "Calma, Moreira! Assim você vai ter outro ataque. E que diabos é center-for?!". Eles estavam na Avenida Brasil, já quase em Irajá, onde moravam. Engarrafamento. O Moreira embicou o garanhão pra faixa seletiva - valendo-se da sua alta graduação militar - e continuou reclamando, ignorando a pertinente pergunta. "Ah! Áureos tempos em que o Vasco da Gama era grande! Você é muito novo, não viu o que eu vi. Não viu as triangulações de Tetinho, Totinho e Madureira, nem as defesas felinas do Juliano Medeiros. Ah! Áureos tempos!". Buiú franziu a testa. "Moreira, o Vasco nunca teve jogadores com esses nomes. Aliás, provavelmente time nenhum teve". Buiú estava muito apreensivo. Assim que percebeu que o seu amigo imaginário começara a delirar, percebeu também que estava de carona com ele no meio da Avenida Brasil. Uma queda seria fatal. "E aquele center-for? Ah, o Marciano! Que center-for! Que jogadas!". E lá vinha aquela palavra esquisita de novo. "Porra, Moreira! O que é center-for? Presta atenção no trânsito!". "Sr. Buiú, o Marciano faria esse nosso center-for parecer uma mulherzinha perneta!". Então finalmente aconteceu: o Moreira teve outro ataque. Buiú só teve tempo de falar "merda!" antes de cair do cavalo, sem saber o que diabos era center-for.

quinta-feira, maio 05, 2005

Subterrâneo

Paulinho teve um amor de metrô. É, de metrô. Começou na Saens Peña e durou três estações; Paulinho teve que descer no Estácio. Enquanto o trem ia embora, ele tentava - pelo menos isso - um esbarrão de olhares com a sua amada, que sentava e ignorava que fora a sua amada durante três estações (Veja bem, não foram duas, mas três estações). O trem se foi finalmente, e o Paulinho ficou quase só na estação, onde ecoava a "Tristesse" de Chopin. Quase só: a música soava como uma mão amiga no ombro, e o Paulinho saiu assobiando. Lá fora estava um belo dia.