sexta-feira, maio 13, 2005

Preparação

Buiú, o universitário ocioso, passou o dia quieto demais, e o Moreira - amigo imaginário e coronel do exército epiléptico - já estava ficando impaciente. "Não vai me dizer, Sr. Buiú, que você está com medo da sexta-feira XIII?". "Hã?", gemeu o Buiú na garupa do garanhão, que trotava na calçada; ele estava muito distraído olhando para o alto dos prédios para responder coerentemente. Depois de o Moreira tomar ar para repetir sua pergunta, mas antes que ele a repetisse, o Buiú pediu: "Se importa de ficar embaixo das marquises? Não quero levar uma tijolada na cabeça no meio da Rio Branco". "Argh!" - o Moreira fez uma careta - "Poupe-me das suas superstições! Hoje, meu caro, é uma sexta-feira como outra qualquer". "Não é da sexta-feira 13 que tenho medo, Moreira. É da quinta-feira 12". Nesse momento o cavalo do Moreira empacou. Ainda penso que o fez para ouvir melhor a besteira que o Buiú dissera e que, sem dúvida alguma, complementaria. Merece até um novo parágrafo.

"Quinta-feira XII?!". Não, não foi o cavalo que perguntou; foi o Moreira mesmo. "Sim, Moreira! É na quinta-feira, número 12, que reside o Azar e toda a sua família". Buiú abriu um parêntese, meteu um sorriso de "gostei da minha própria metáfora" lá dentro, fechou o parêntese, e continuou (o cavalo parecia então mais atento do que nunca): "Moreira, você acha que tudo acontece instantaneamente, da noite pro dia, do nada? Você é veterano de guerra, sabe muito bem que o resultado de uma batalha só vem depois de dias de preparação". Buiú estava empolgadíssimo, e nem percebeu o esboço de protesto de seu amigo imaginário. "Da mesma forma, a tijolada na cabeça não acontece de uma hora pra outra. Com certeza foi na quinta-feira 12 que um pedreiro idiota deixou o tijolo na borda do andaime. Não na sexta-feira 13, porque, na sexta-feira 13, o idiota do pedreiro toma todo o cuidado do mundo para que não aconteça uma fatalidade". Ao dizer isso, o Buiú deu uma olhadela pro alto de novo, e, estando o céu limpo de tijolos inopinados, lubrificou a garganta de poesia e arrematou: "Nem tudo é o que parece. Nem mesmo o próprio tempo". O Moreira ficou calado e pensativo; o cavalo parece que foi convencido, pois voltou a andar, tranqüilamente, por uns 100 metros. Logo teve que parar: o Moreira tivera outro ataque.

4 comentários:

Anônimo disse...

Bernardo, "gostaria de estar solicitando", por favor, um formulário de adesão ao seu fã-clube e a versão pocket-book do seu blog, devidamente autografada.

Não vou querer a camiseta Eu Amo o Moreira, pq teria vergonha de usar na rua, mas que fique registrada a minha admiração por esse nobre soldado.

Anônimo disse...

Pô! Mais um!? Ainda bem que ele nunca morre, né! Né? Espero que não. Adorei o post!

Anna Carolina disse...

Já que vc gosta dos comentários oficiais, só passei pra registrar que sou fã da dupla.

Anônimo disse...

Tá em greve?