segunda-feira, julho 30, 2007

Interatividade

Insira o segredo da vida aqui: ______________________.

Precisando de mais linhas, paciência.

Recorte IV

- Eu acho que quero escrever o melhor poema do universo.

- Grande novidade. Todo mundo que faz alguma coisa gostaria que fizesse a melhor coisa.

- Quem escreve, não. Minha cara, escrever é passar despercebido, esconder-se, essas coisas. Ser grande, isso é para astronautas, apresentadores de tevê. E boxeadores. Todo boxeador quer ser o melhor.

- Ahn... [Bem devagar, assente com a cabeça. Ela é mestra na condescendência com amigos.]

- É esquisito, o escrever sem endereço. Não se quer impressionar, ganhar um tapinha nas costas sequer. Apenas arranjar um lugar pra tinta que transborda por baixo das unhas. Mas esses momentos são raros.

- Pelo visto, agora não é um desses momentos né?

- Não, quero mandar um recado. Dizer que estou aqui.

- Pra quem?

- Não sei. Por isso que tem que ser o melhor do mundo. Pra ter mais chance de alcançar o destinatário.

segunda-feira, julho 23, 2007

Ciclo

E tome pá de cal na tristeza.

Com o tempo, fertiliza a terra, sobe sobe, nasce uma plantinha de cor de nome difícil. Dá floreszinhas choronas. Chega o pass'rinho e leva o pólen pra longe. Faz espirrar o violonista alérgico. Espalha uma pequena epidemia. Morrem três ou quatro. Nascem outros cinco.

E tome pá de cal em tudo isso.

Brincando

Pois tive vontade de começar um texto com "Caramba!". Mas comecei com "Pois". Irônica, a onipresença da palavra.

domingo, julho 22, 2007

Minha

Hoje eu ri de todos os amantes. Os tolos, os infantis, os sisudos. Desprezei declarações comedidas e "eu te amo"s gritados do fundo dos pulmões. Lamentei, com aquela velha sensação de superioridade, todas aquelas pessoas invejáveis em sua ventura.

Porque elas não sabem o que eu sinto.

Gargalhei de todos os poetas, cantando suas musas e seus sabores. Com um sorriso condescendente, deixei os brutos com suas cartinhas mal escritas. Não fui preconceituoso: ignorei os aplausos aos grandes escritores. Todos eles, tão infelizes.

Porque não sabem o que eu sinto.

Pra que largar tanto amor ao vento? Deixar se perderem, indefesas no lado externo do peito, essas crianças que nunca crescem? Por que, meu Deus, sujar quilos de papel com preciosidades inomináveis? Diz-se, declara-se, perde-se, gasta-se. Não, eles não sabem o que fazer com seus amores.

Hoje o mundo está sujo de tantas frases que perderam seu sentido de existir. Céus, juntemos as palavras de carinho numa grande montanha de lixo! São todas usadas e recicladas, ama-se em ciclos ecológicos. Diz-se, e logo se perde o que deu origem ao que foi dito. Eu prefiro ser avaro, e juntar meus diamantes brutos. Gosto de sentir você me doer inteiro.

Não, você também não sabe o que eu sinto. Não faz idéia sequer de um quinto dos nomes que te dei dentro de mim. E nem por isso sou menos sincero.

Eu não te amo, eu não te quero, eu não te desejo. Você já é minha antes de eu ser de mim. Não importa o que aconteça, eu duvido que alguém algum dia irá te possuir como eu. Dessa forma que nem você nem eu sabemos. Essa mesmo, que você nem sabe que existe. Esse vazio tão pontiagudo.

Você me foi um tiro que errou o alvo, e o sangue escorrendo assim mesmo.

Idéia Impossível

"Deus nos dá pessoas e coisas, para aprendermos a alegria... Depois, retoma coisas e pessoas para ver se já somos capazes da alegria sozinha..."

É do Guimarães Rosa. Da novela "Buriti", se não estou enganado. No Grande Sertão, ele também menciona essa ideiazinha impossível. Não consigo imaginar a perda de certas pessoas sem ter a nítida sensação de mutilação. Sem anestesia; nem ao menos uma cana pra aliviar. Machadada, suja, enferrujada, desferida por um carrasco que cospe no chão. Depois de 30 dias numa masmorra úmida, conversando com um velhinho demente, que esteve lá a vida inteira.

Ainda que a natureza da minha felicidade seja autosuficiente. Ainda que solidão seja o ar que eu alegremente respiro.

quinta-feira, julho 19, 2007

Recorte III

- Oi!

- Olá, tudo bem?

- Olha, a essa hora da noite, melhor evitar esse tipo de questionamento filosófico polêmico.

quarta-feira, julho 18, 2007

Uma alegria

Três pardais brincavam descuidados nos fios de telefone, nos postes, no pé-de-romã. Heleninha olhava, absorta. "Que é que está fazendo?", a mãe. "Vem ver os pass'rinhos, mãe. Estão brincando de pique-pega". "Mais o que fazer, minh' filha. Mais o que fazer". Foi-se a mãe cozinhar, arrumar a casa, costurar os botões caídos da camisa do mundo. Heleninha, ficou. Os pardais agora brincavam de roda.

De volta às origens

E essa chuva que cai, e me lava a alma? Tão minha irmã, e tão capaz de me fazer feliz. Essa chuva tem História. Tem passado e tem futuro. Nosso caso é de festas, paixões e tristezas. Juntos, eu e ela. Como ser tolo e acreditar que cabem mais do que duas pessoas (eu e a chuva) nessa dança? Tudo o que é nosso é só nosso, de mais ninguém. Compartilhar é uma ilusão daqueles que não se conformam com o naufrágio que é a vida. Eu lembro sozinho; até mesmo do que vivi em conjunto. E o que é importante pra mim não o é para mais ninguém.

Você que me lê, não me considere bobo. Isso tudo vale pra você também.

Uma carta

_______?

Atenciosamente,

Eu

Encontro com a solidão

Das dores que rodeiam o mundo, a mais escurecedora é a decepção. Que sejamos surrados, escorraçados, esfolados e traídos! Que a luz do sol nos queime, mas que venha o sol como o conhecemos, todas as manhãs. E que não olhemos espantados e entristecidos quando for meio-dia e a noite continua a brincar pela janela.

Todas as dores do mundo nos são impostas, de cima a baixo, como um martelo invisível e amargo. Menos a decepção. Essa explode de dentro pra fora, rasga tecidos, adormece a mente. Não é grande. Não é sequer uma dor. É um desalinho, somente. Um suspiro, e uma certeza de que no fundo estamos todos sozinhos.

domingo, julho 01, 2007

Entre aspas II

"Você nao entende que o amor engloba tudo? Eu queria que você fosse tudo pra mim... e que também fosse nada... e que também fosse quase nada... e que fosse quase tudo."

Recorte

- Mas veja bem; é mto mais fácil gostar de alguém em momentos alegres...
- É?
- Ou não, sei lá. Falei sem pensar...
- Ah, bem. Porque eu já ia discordar.
- Você acha que é o contrario?
- Não. Eu ia discordar sem pensar!

Sorriram juntos.