Hoje, no café da manhã, interpelou-me da seguinte forma uma formiga metida a gente:
“Já ouvi de tudo nessa vida. Já me disseram que o amor é um dever, que o amor é a salvação, que o amor é uma mentira, que o amor é tudo o que eu preciso, que o amor é uma palavra de quatro letras, que o amor é o que me faz formiga. Você anda pensando que o amor é uma dúvida”.
Ela rondava o pote de achocolatado em pó, pequena que só. Eu tomava calmamente um suco de manga. Não lhe dei atenção. Mas também não lhe esmaguei com o dedo.
“Talvez amar seja ser compelido a escolher, não? Quem sabe o contrário do amor não seja o ódio, e sim a indiferença? Não há dúvidas sobre o que nos é indiferente, e é por isso que a paixão nos vira a cabeça, e abala o exoesqueleto. Porque com ela vêm a dúvida e a hesitação. O amor é não saber. Amar é duvidar que se ama. O que você acha?”
Permiti-me olhar para ela. Animal insolente. Quem era ela pra vir falar de humanidades para um humano? Desci o copo, com o intuito de partir o seu corpo com a borda do fundo de vidro. Ela escapou agilmente. Além do Português correto, ela era veloz como um atleta. Correu pra longe, e, antes de entrar na sua casa na tomada, olhou pra mim uma última vez. Acho que mostrou a língua.
3 comentários:
sim, o amor é cheio de dúvidas.
Do que ele é, se acaba, se vira outra coisa, se não acaba mas fica guardado atrás dos olhos ou no peito pelo resto da vida, se existem vários tipos, se é um só...
muito malandra essa formiga.
esse, além de tudo, foi-me útil.
engraçado, bernardo, parece que eu precisava ler isso, e nesse momento.
colocando um pouco de lado o quanto o texto me ajudou: como sempre, muito bem elaborado. como sempre, parabéns.
Atrevidinha sim. Mas certíssima!
Divertido o texto.
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