Heroína. Essa era a favorita da Carolina. E o Coelhinho Roxo era o seu traficante predileto; ele vendia a mais pura. Agora, diante da porta que a levaria de volta pra casa, a Carolina queria mais um pico.
Carolina era loira, drogada e descrente. E muito. Já estava há exatos 436 dias no País das Maravilhas e ainda não acreditava em nada do que via. Agora mesmo, tinha acabado de dar os 65 dólares nas patas do Coelhinho Roxo, mas não estava nem aí. O dinheiro não faria falta mesmo. Afinal, o que não existe não faz falta. "Peraí, há quem diga o contrário", protestou o Coelhinho Roxo. Ele tinha a péssima mania de ler os pensamentos da Carolina. "Por favor, sem intimidades filosóficas. Dê-me o troco, ande". "Que troco, Carolina?". "Ora bolas! Você me deve 1 dólar e 75 centavos!". "Carolina, você já é uma viciada terminal. Faça-me o favor de olhar com mais atenção a minha tabela de preços", respondeu o Coelhinho, impaciente. Ele havia tirado um pequeno e amarelado papel do bolso do paletó, e estendia-o para ela. Carolina pegou, olhou e tirou o arzinho metido da cara. Foi embora. Para onde? Para o primeiro parágrafo.
Pois então. À frente da Carolina estava a tão procurada saída do País das Maravilhas. O problema era que nas suas mãos havia a entrada para o País das Maravilhas. Era como se estivesse entre dois espelhos, portanto a confusão da coitada seria bastante compreensível. Seria. Verbo "ser" conjugado na terceira pessoa do singular do futuro do pretérito do indicativo. Carolina não estava confusa. Aliás, Carolina estava muito à frente dessas palavras aqui, pois ela já tinha injetado a droga há muito tempo. "Uhu!", já pensava ela enquanto eu digitava a metáfora dos espelhos.
sexta-feira, abril 29, 2005
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6 comentários:
A barreira que separa a "viagem" da consciência é muito mais tênue do que se pode imaginar...Daí se justifica o quanto EU viajei enquanto lia esse texto.
Sobre a história dos blogs: não acho q diários e álbuns q ficam guardadinhos nos armários sejam idênticos àqueles virtuais, justamente porque estão expostos ao julgamento alheio de uma maneira bem mais evidente, tão ali, à disposição de quem quiser bisbilhotar e palpitar.
Do lado de lá coisa tá rendendo...e toda discussão é bem-vinda.
É isso...Bjs!
Talvez o problema da Carolina fosse a descrença. Não acreditaou que sair do Paías das Maravilhas fosse levá-la a algum lugar, então invés de esquentar a cabeça tentando destinguir a imagem e a verdadeira porta (se é que havia alguma diferença entre elas), resolveu continuar alta.
Se o que não existe não faz falta, talvez não seja necessário procurar uma saída e sim um jeito de explorar onde se está.
Acho que viajei demais.
Adorei o posta anterior, sobre o morango.
Bjos!!!
Eu só queria acrescentar que Carolina na verdade é morena, e apenas por uma crise existencial momentânea resolveu pintar o cabelo de loiro.
E tem mais! o Coelhinho Roxo não usa paletó porque ele é um cara das ruas sacou? malandrão.. sagaz!
quem usa paletó é a galera do alto escalão que fica tomando chá o dia inteiro e não precisa sujar as mãos com gente que nem Carolina :P
heheheeheh
vai escrever um filme, menino!!
:*
Chapei que nem a Carolina. Por isso demorei a comentar. As palavras pra isso não existiam, mas tavam fazendo falta sim. Agora elas me ocorreram, de súbito.
Very very foda!
Inspirado, hein? Melembrou que eu tenho que terminar de ler o livro...não cheguei no Através do Espelho. Ai, ai...a faculdade...
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