sábado, junho 03, 2006

Sem causa e sem efeito

É que entrei na casa das reflexões. Sabe, um hiato entre semanas de vida em que a gente não aceita nenhuma novidade, nenhuma caminhada pra frente na nossa existência. Porque tem que parar e pensar. Revista mesmo, retrospectiva, teste, rewind, limpar a cabeça do vídeo, conversar por duas horas consigo mesmo. Isso tudo embolado junto, sentado numa cadeira verde. Tomar pouco banho, só pra sair de casa. Nem sair, se pudesse escolher. É hora da faxina, moleque, depois você vai.

De vez em quando é assim que tem que ser. Vamos pontuando todo o viver assim, com momentos de olhar a parede sem ver a parede. Porque o que a gente tá vendo é justamente o contrário; o dentro da gente, que se enfunila pelos olhos e vai parar naquela imensidão de nada que é o que se chama de eu. Eu. Viajar pelo eu pede ficar sentado e de olho aberto. Não é sair do mundo não senhor. É estar tão no mundo que não se consegue nem se mexer. Digo e redigo. Quem mais está com o pé nesse chão nosso de cada dia é quem parece não estar. Porque quem pisa no chão não é o nosso pé, mas a gente todo, corpo e alma. E pra ver alma, minha gente, só sentado e de olho aberto, vidrado.

E aí que é a parte da diversão. Tem morte, tem guerra, tem romance, tem comédia, tem uma cinemada toda. Tem coisa ruim e coisa boa. Lá dentro, a gente é Nobel da Paz e do Diabo também, às vezes os dois no mesmo prêmio. É hora de arrumar, cortar, chutar e polir; caminhar por um caminhozinho frio e escuro e ir visitando cada recanto do lá dentro, onde – todo mundo já cansou de saber – quem é rei é só a gente mesmo. Rei de um jeito, rei de outro, sentado nos tronos mais esquisitos do mundo. E a gente conversa, embaixador de si mesmo, negocia, relata e argumenta, e leva consigo a vitória, a derrota, e todos os termos de cada conversa com cada majestade nossa. Todo mundo é um pouco jornalista da introspecção.

Resultado disso tudo, tem não. Desde quando alguma coisa na vida tem resultado? Tem é acontecença. E o porquê a gente inventa depois.

2 comentários:

Stephanie disse...

Bê,
este teu texto é tão exato, tão bonito que não tem mais o que fazer, senão te dar os parabéns, menino.

As tuas palavras falam direto a esse Eu, escondido do lado de dentro.

beijo!

Anônimo disse...

como sempre: muito apropriado.