terça-feira, abril 26, 2005

Do morango gigante e o coronel epiléptico

Buiú, o universitário ocioso, saiu pensativo da aula de marketing. "Está tudo errado com o morango", falou. "Nem a banana, a maçã ou qualquer outra fruta concorrente tem o potencial de consumo do morango. Ele é bonito, gostoso e, o melhor de tudo, tem uma marca forte. Não tenho dúvidas de que seja top of mind na cabeça do consumidor; o morango tem uma imagem associada à paixão, ao prazer e ao requinte; e nem é tão caro assim. Então a pergunta é: Por que se come mais maçãs e se toma mais Coca-Cola - pra falar de um concorrente indireto - do que se come morango?". Sua fisionomia era a daqueles discursantes que faziam perguntas retóricas como se fossem os últimos guardiães da resposta. Mas estavam cansados do fardo, e, orgulhosa e majestosamente, cediam o conhecimento à platéia ignorante.

O Moreira, que acumulava os títulos de coronel do exército epiléptico e de amigo imaginário, ajeitou-se na sua montaria, ereto e pensativo. "Deve ser a taxa de juros", arriscou despretensiosamente, coçando as dragonas enferrujadas. "Não, rapaz. Você anda lendo muito jornal. Se eu estivesse no Desenvolvimento de Produto, o morango seria líder de mercado". "Então o que é?", o Moreira agora coçava as suíças. "O morango..." - Buiú fez uma pausa para dramatizar - "... é muito pequeno, Moreira". O universitário encarava seu amigo, com um sorriso triunfante. Se ele tivesse um charuto, com certeza daria um tragada - também para dramatizar. "Não existe continuidade no consumo do morango. A pós-modernidade exige rapidez e dinamismo, e o morango não permite isso. É, como já disse, muito pequeno. As pessoas não querem ficar comendo morango que nem uva. Uva tudo bem, o diferencial dela é comer uma bolinha por vez. Mas o morango não; o morango deveria ser do tamanho de uma manga. Ou de uma jaca".

"Mas isso é absurdo!", protestou o militar. "Se Deus fez asim, é porque é melhor assim", acrescentou, mas com tanta segurança que eu me sinto tentado a colocar um ponto final no diálogo. O Moreira teria gostado disso, mas aí eu não corresponderia ao rigor jornalístico, porque o Buiú logo redargüiu: "Deus fez assim porque o seus anjos estudaram na Estácio! O morango foi feito para ser consumido a largas mordidas, meu amigo, e, se o Senhor tivesse o mínimo de... Droga. De novo, Moreira?". Buiú teve que parar a sua brilhante exposição; o Moreira tivera outro ataque e caíra do cavalo, se tremelicando todo no chão.

8 comentários:

Anônimo disse...

Muito bom.

Anônimo disse...

Genial, Bernardo, GENIAL!
Mas eu acho que Deus, na verdade, fez UniverÇidade.

Anônimo disse...

Só pra constar: O Anonymous sou eu. Não sei pq cliquei nisso...

Anônimo disse...

Merda! Agora não cliquei em Anonymous, cliquei em Other. Mas esqueci de digitar o nome! Mas td bem, todo Blogger gosta de ter muitos comentários.

Anônimo disse...

E qdo começarão as pequisas pra desenvolver os morangos trasgênicos do tamanho de jacas?
...e qdo venderem, me dê o endereço do supermercado...

Anônimo disse...

Se o Moreira comesse morangos transgênicos não teria um ataque epilético e não cairia do cavalo.

E o Buiú teria um grande trunfo publicitário :P

Anônimo disse...

*AUTOCORREÇÃO:

Faltou um p no epilépticos no comentário anterior. Isto posto, minhas colocações são as mesmas.

Anônimo disse...

Ih, Caraca! Tá bombando, tá bombando.