domingo, junho 09, 2013

Confissão

Se gostei de ti?

Na primeira vez não
Na segunda sim
Na terceira não outra vez

Na quarta eu tinha bebido
Na quinta quase me apaixonei
E na sexta não entendi por quê

Na sétima foste invisível pra mim
E na oitava também.

Pouco depois descobri
teu cheiro de limão
e a curvatura do teu ombro.
Chamei e vieste.
Foste embora quando mandei.
Vimo-nos ainda uma vez
E ainda uma vez
Esqueci o teu nome.
Tu mo recordaste.

Amei-o.
Amei-o muito, o teu nome.
Tão e somente teu
Que dizê-lo em voz alta
Era como contar um segredo.
Por isso guardei-o só pra mim
Em uma caixinha de papelão bonito
Que eu abria de vez em quando
Pra amar teu nome um pouquinho
Antes de dormir, nas horas longas.

Se gostei de ti?
Até no esquecimento.

domingo, julho 15, 2012

Minha família são os viajantes. Todos aqueles que algum dia responderam com um trêmulo "não" a alguma fisgada d'alma, a uma extensa mágoa da terra ou a um grande amor pelo mundo. E a coragem para não guardar nada exceto memórias e o próprio nome.

Amo os que se perdem, se estranham, se frustram com sonhos rotos do que havia além. Tem que sonhar muito; beber saudade; ter o pensamento longo e um coração sempre dois passos adiante ou atrás. O viajante é o descompasso.

Que ternura eu sinto quando vejo alguém dobrar uma esquina e não se lembrar de voltar; esqueceu não por ser esquecido, mas porque a recordação maior é aquilo que nunca se teve, uma tristeza paga adiantado, mas que nem é triste se você pensar bem.

Gosto que eles partam, por serem desbravadores ou covardes; por sonho ou inércia; para poderem comer ou para poderem ver... Eu gosto igual. Me dá uma coisa, um saber que essa gente está viva, que buscam algo que nunca encontrarão. Os viajantes serão sempre para mim a vitrine do mistério que há por aí, os mestres dos propósitos perdidos, das estradas sem fim, do nunca parar – morram ou não com um belo sorriso na boca.

Efêmero

Como o raio de sol
Que não se guarda pra depois
Tenho um abraço latente
Que me salta do corpo
E só encontra o vazio.

sexta-feira, julho 03, 2009

Dedicatória

Esse eu quero ler
Antes de você.
Sorry, é assim que deve ser
Quero também te despir
Antes que você perceba.
O resto é inconfessável:
Páginas de livro são puras donzelas
Não podem ouvir
Nossas ardentes selvagerias.

sexta-feira, maio 22, 2009

Estrela-do-mar

Com ela não há escolhas
As prendas nos cabelos
São selos
Libelos
Arrancados de um mar de silêncio, de dor, de
Inevitável
O mar é inevitável
Ninguém escolhe a onda que quebra
Ao lado da cama

Só há o desespero
Única palavra permitida
Que pode
E deve
E o faz
Diz: 'eu existo'

No oceano dela
Barcos não enferrujam
Nem navegam
Ninguém mergulha
Nada
Pesca
Não há peixes. Não há peixes
Nela só se naufraga
E se afoga

E tudo se transforma
Em corais.

De todas as cores
Crustácea vida
Salgada e formosa
Impressão de mar sem fim
O mundo é o que é
Ela é a prova do mundo
E eu gosto dela

sexta-feira, fevereiro 13, 2009

Descompasso

Ai mãe, são sempre as mesmas coisas que voltam. O passado está sempre a me assombrar, como um mendigo pedindo esmola rindo. Rindo porque o filho da mãe não é mendigo coisa nenhuma, é podre de rico - é o passado que é sempre presente, é dor e alegria que se repetem e se confundem, é uma fotografia dentro de outra fotografia, é uma

filho da mãe!

Tudo volta sempre, mãe, e era pra você estar aqui e me explicar por quê. Por quê? Por que eu não saio do lugar mesmo andando rápido, gastando a sola do tênis que já cansou de andar até antes das minhas pernas, por que minhas pernas são finas e mesmo compridas não acompanham a rotação da Terra, essa bola azul que gira somente rápido o suficiente para me deixar pra trás, e eu sem nem saber o que dizer praquela gente que passa e

Por quê?

Eu sempre canso de pensar nessas coisas, então resolvo viver, pois, ao contrário do que pensam, não é tão difícil assim, e até traz felicidade, se você for um bom menino. Tento amar, trabalhar, me exercitar 3 vezes por semana e me tornar mediocremente grande - ou um grande medíocre - e ficar satisfeito com isso. Mas o que acho, mãe, que tenho que fazer é ir na fábrica e encomendar o mais rápido carro que já se construiu; assim espero fugir do maldito falso mendigo que me espreita, e tentar quem sabe acompanhar a rotação da Terra e das pessoas, e perguntar "e aí, gente? giramos! giramos juntos, eu e vocês! vamos trocar uma idéia!", e quem sabe de uma hora pra outra passar a ser aquele que dá conselhos em vez de os procurar em você, mãe, em vez de

Mãe,

Crescer é perceber que se está sozinho?

sexta-feira, julho 11, 2008

Passado

de açúcar
docemente
carne;
desabrochar
de
sorrisos-sobremesa.

Doçura que na boca
Fica.

terça-feira, abril 22, 2008

Página n°161, frase n° 5

"- Qual! Essas garotas chegam aos bandos e fazem sempre isso. Chegam, vão embora, sem nunca dizer nada a ninguém."

Tudo bem, são 3 frases, mas não acho que a Mariana vá brigar comigo por causa disso.

O livro é "A Brincadeira", de Milan Kundera, e não, ainda não cheguei nessa página. Aliás, nem comecei a ler, mas estava na beira da cama, ao alcance da mão, e isso basta para as regras da brincadeira.

Ah! A brincadeira de que falo é uma dessas coisas de socialização entre blogs, sei lá. É pra você escrever no seu blog a 5ª frase da página 161 do livro mais perto de você, e passar a brincadeira adiante. Tão divertido quanto inútil. Se bem que a frase destacada ali em cima é bem útil pra rapaziada. Prestenção, pessoal. Essas garotas não são moleza...